TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DE SANTA CATARINA

DIRETORIA DE CONTROLE DA ADMINISTRAÇÃO ESTADUAL

Inspetoria 2

Divisão 5

PROCESSO Nº AOR -06/00348822
UNIDADE GESTORA SECRETARIA DE ESTADO DA AGRICULTURA E DESENVOLVIMENTO RURAL
INTERESSADO ALFREDO FELIPE DA LUZ (a partir de 03/04/06)
RESPONSÁVEL MOACIR SOPELSA (até 30/03/06)
ASSUNTO AUDITORIA DO PROJETO MICROBACIAS 2 - PROGRAMA DE RECUPERAÇÃO AMBIENTAL E DE APOIO AO PEQUENO PRODUTOR RURAL - CONTRATO DE EMPRÉSTIMO Nº 4660 - BR
Relatório de Auditoria nº DCE/INSP 2 nº 252/06

1 - INTRODUÇÃO

Em cumprimento ao que determinam a Constituição Estadual - art. 59, IV, a Lei Complementar 202/00 - art. 25 e o Regimento Interno deste Tribunal (Resolução TC-06/01) art. 46, a Unidade Gestora acima identificada foi auditada pela Diretoria de Controle da Administração Estadual-DCE, deste Tribunal de Contas, com base no plano estabelecido no MEMO nº 35/06, autorizado pela Presidência desta Casa em 27/03/06, com as alterações contidas no MEMO nº 247/06, de 21/06/06, e ofício nº TCE/DCE/AUD. 7.682/06, de 08 de junho de 2006.

Na análise dos documentos apresentados pela Unidade Gestora, foram considerados os aspectos constantes da legislação vigente sobre a matéria. A auditoria foi executada entre os dias 12 a 30 de junho de 2006 e abrangeu a verificação do Programa de Recuperação Ambiental e de Apoio ao Pequeno Produtor Rural - Prapem/Microbacias 2.

O Programa foi viabilizado através de um Contrato de Financiamento entre o governo do Estado de Santa Catarina e o Banco Internacional para a Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD) - Acordo de Empréstimo nº 4.660-BR, firmado em 10 de maio de 2002. Está sendo desenvolvido em todo Estado de Santa Catarina, devendo atingir 879 microbacias hidrográficas, o que representa 52% das existentes.

A Secretaria de Estado da Agricultura e Desenvolvimento Rural/SC - SDR é a entidade executora do Programa de Recuperação Ambiental e de Apoio ao Pequeno Produtor Rural, com auxílio da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina - EPAGRI, da Secretaria de Estado do Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente - SDM, dos Municípios, da Fundação do Meio Ambiente - FATMA e do Instituto de Planejamento e Economia Agrícola de Santa Catarina - ICEPA.

O Programa teve origem em 2002 com previsão de conclusão em 2008, para aplicação de $107.500.000,00 (cento e sete milhões e quinhentos mil dólares), sendo 59% financiados pelo BIRD e 41 % de contrapartida do Estado.

2 - ANÁLISE

2.1 - Dos apectos técnicos e jurídicos

2.1.1 - Programa Prapem/Microbacias II

O Programa de Recuperação Ambiental e de Apoio ao Pequeno Produtor Rural - Prapem/Microbacias 2 é um programa do Governo do Estado de Santa Catarina com financiamento do Banco Internacional para a Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD) - Acordo de Empréstimo nº 4.660-BR.

O Programa tem como objetivo central contribuir para a melhoria da qualidade de vida da população rural de Santa Catarina, através da preservação, recuperação e conservação dos recursos naturais, do aumento da renda, das condições de moradia e estimulando uma maior organização e participação no planejamento, gestão e execução das ações. A sua área de atuação é em todo Estado de Santa Catarina, com a proposta inicial de atingir 879 microbacias hidrográficas, distribuídas em 293 municípios, que corresponde a aproximadamente metade das microbacias de Sanca Catarina, beneficiando aproximadamente 450.000 pesssoas, envolvendo 105.000 famílias rurais.

Tem como objetivos específicos:

a) Preservar, recuperar e conservar os recursos naturais, através da melhoria da regularidade dos fluxos dos cursos d´água, melhoria da qualidade da água e recuperação e conservação da biodiversidade;

b) Aumentar a renda através de criação de oportunidades de ocupação da mão-de-obra no meio rural, aumento da apropriação do preço final dos produtos pelos agricultores familiares e melhoria dos sistemas de produção;

c) Melhorar as condições de habitabilidade no meio rural, através de melhoria das habitações e melhoria do saneamento básico;

d) Aumentar a efetividade das ações, através de preparo das pessoas para o enfoque da sustentabilidade e aumento e melhoria da participação dos beneficiários.

São executores do Programa as seguintes Unidades:

2.1.2 - Estrutura do Programa Microbacias II

O Prapem/Microbacias 2 está estruturado sobre quatro componentes, dez subcomponentes e três linhas de apoio:

2.1.2.1 - Organização e Desenvolvimento Institucional - busca assegurar a implementação do Programa nas microbacias hidrográficas, fortalecendo os setores das organizações que participarão da sua gestão e execução e disponibilizará, nos locais e nas épocas oportunas, os recursos financeiros, materiais e humanos necessários. Subdivide-se em, capacitação, educação ambiental, extensão rural, pesquisa e estudos e Assistência Técnica ao Programa de Ajuste Estrutural do Estado.

2.1.2.2 - Inversões Rurais - tem como objetivo viabilizar a implantação de práticas, atividades, obras e empreendimentos voltados a recuperação e conservação dos recursos naturais e meio ambiente, melhoria da habitação e da renda enfim, todas as ações previstas no plano de desenvolvimento da microbacia e da propriedade que necessitarem de apoio financeiro para sua execução. Para o Prapem/Microbacias 2 pretende-se priorizar a participação da comunidade no planejamento da microbacia, dos empreendimentos a serem incentivados e dos benefícios a serem concedidos. Com a participação da comunidade espera-se atingir uma maior eficácia e efetividade das ações do componente.

Este componente constitui-se de quatro linhas de apoio aos beneficiários diretos do Programa, quais sejam, recursos naturais e meio ambiente, melhoria da renda, melhoria da habitação e elaboração dos planos de microbacias.

2.1.2.3 - Gestão Ambiental - a fim de contribuir para a redução da pobreza rural e melhoria do meio ambiente, este componente propõe ações buscando a redução da degradação dos recursos naturais, através do apoio ao planejamento e gestão integrada de bacias hidrográficas. Subdivide-se em Gestão Integrada de Bacias Hidrográficas e Corredores Ecológicos e Unidades de Conservação.

2.1.2.4 - Administração e Monitoramento e Avaliação - formados pelos sub-componentes Administração do Programa, Monitoramente e Avaliação e Gestão Participativa.

O subcomponente Administração trata da responsabilidade global pela execução do Programa desde procedimentos administrativos, plano de contas, orçamento, fluxo dos recursos, prestação de contas e operacionalização dos pedidos de reembolso.

O item monitoramento e Avaliação é realizado através de mecanismos que assegurem a verificação permanente da implementação e a disponibilização de informações que permitam a administração, o gerenciamento, a avaliação e a divulgação do Programa.

Por último, o subcomponente Gestão participativa tem como fundamento o incentivo a uma alta participação dos agricultores e demais atores sociais no Programa. Considerando que o Programa busca o desenvolvimento sustentável, é necessária uma forte atuação no sentido de delegar boa parte do poder decisório aos próprios beneficiários.

2.1.3 Beneficiários do Programa

A seleção dos beneficiários do Programa iniciou-se com a priorização das microbacias seguindo-se da caracterização dos beneficiários.

2.1.3.1 Priorização das microbacias:

Antes de especificar todas as etapas seguidas na priorização das microbacias, convém definir microbacia. A superfície da crosta terrestre é modelada pela água da chuva a caminho do mar, dando origem ao que se chama de sistema hidrográfico, que se apresenta na natureza de forma compartimentalizada. O compartimento maior, que abarca todos os demais é o que denominamos de bacia hidrográfica, ou seja: "uma área delimitada na topografia, formada por um conjunto de cursos d'água, conectados entre si, por onde as águas são drenadas para o mar ou para um grande lago, através de uma única sessão de controle."

Logo, uma Microbacia hidrográfica é a unidade espacial mínima do sistema hidrográfica, formada geralmente por pequenos rios, lageados, ribeirões e assim por diante.

O Estado de Santa Catarina começou a ser trabalhado em microbacias no ano de 1984, após uma grande enchente ocorrida no vale do Itajaí, por determinação do então governador na época. Porém, os limites naturais ou os divisores de água não são os únicos elementos considerados pelo Programa. Há os limites de caráter político-administrativos, que são na verdade, as divisas entre as propriedades (cercas) e entre as próprias comunidades. Portanto, para o Programa além das questões ambientais, são considerados os aspectos político-administrativo.

Etapa 1 - Divulgação da estratégia e formação de equipe de priorização: através de seminários e reuniões foram apresentatadas e justificadas a estratégia de priorização, bem como constituída uma equipe de priorização em cada município. Todas as microbacias do município deveriam ser setorizadas, contendo em média 120 famílias por microbacia.

Etapa 2 - Parâmetros e critérios para a priorização: foi utilizada uma planilha, contendo os critérios sócioeconômico e ambiental e seus respectivos parâmentros recomendados pelo Programa Microbacias 2.

Etapa 3 - Ordenamento das Microbacias: a equipe preecheu uma planilha com as informações disponíveis para cada microbacia (sendo feitas visitas de campo quando necessário).

Etapa 4 - Priorização das microbacias:

a - Realização de um seminário com lideranças municipais, incluindo o prefeito municipal, secretários municipais, CMDR, câmara de vereadores e representantes das microbacias do município, para apresentar o resultado do trabalho da equipe de priorização, sob a responsabilidade dos Animadores Municipais com o apoio da SER;

b- Priorização e homologação, de forma participativa, das microbacias priorizadas com base nos resultados da planilha de cada microbacia, com registro em ATA assinada pelos presentes;

c - Nos municípios priorizados para 2003 com direito a trabalhar 4 ou mais microbacias, serão trabalhadas as 2 primeiras microbacias priorizadas.

d - Municípios priorizados para 2003, que possuiam 3 microbacias setorizadas e com direito a trabalhar 2/3 destas o trabalho será implementado em 1 microbacia;

e - Municípios, priorizados para 2003, que possuiam de 4 a 5 microbacias setorizadas e com direito a trabalhar 2/3 destas priorizarão, com esta Estratégia, 1 microbacia;

f - Municípios, priorizados para 2003, e com direito a trabalhar 50% das microbacias setorizadas seguirão a seguinte método:

QUADRO 1: PRIORIZAÇÃO DAS MICROBACIAS

Número de microbacias setorizadas no município Número microbacias a serem trabalhadas pelo Programa Número microbacias a serem priorizadas com a Estratégia Alternativa

2 a 5 1 a 2 0 ou 1
6 a 7 3 1
8 ou mais 4 ou mais 2

2.1.3.2 Caracterização dos beneficiários

Considerando-se informações de diversos trabalhos já existentes, foram adotadas as seguintes definições de categorias da população rural: Empresário rural, Agricultor familiar consolidado, Agricultor Familiar Periférico, Agricultor Familiar em Transição, Agricultor Familiar com predominância de renda não agrícola, Empregado Rural, Indígenas e Usuários de água.

QUADRO 2: CATEGORIAS DOS AGRICULTORES
Categoria do Agricultor Renda* Mão-de-Obra
Periférico Menos de 1 salário mínimo = 50% familiar
Em transição 1 De 1 a 2 salários mínimos = 50% familiar
Em transição 2 De 2 a 3 salários mínimos = 50% familiar
Consolidado Mais de 3 salários mínimos = 50% familiar
Empresário Rural Mais de 3 salários mínimos Mais de 50% familiar

* Renda = valor agregado por pessoa ocupada na propriedade em salários mínimos

Os indígenas são populações que vivem em aldeias, acampamentos na beira de estrada ou em casas desaldeadas. Praticam agricultura de subsistência. Categoria considerada diferenciada das demais, tendo em vista suas características peculiares.

Usuários de Água são agricultores que mesmo não pertencendo a uma microbacia trabalhada pelo programa pertencem a uma bacia hidrográfica, enquadrada no subcomponente Gestão de Bacias, podendo receber recursos específicos destes subcomponentes.

Todas as famílias das microbacias selecionadas poderão ser beneficiadas pelo Programa, sendo considerados público prioritário os pequenos agricultores familiares com renda de até 2 salários mínimos por mês, empregados rurais e populações indígenas.

2.1.4 - Acordo de Empréstimo nº 4.660-BR

O Programa de Recuperação Ambiental e de Apoio ao Pequeno Produtor Rural - Prapem/Microbacias 2 foi viabilizado através de um Contrato de Financiamento entre o governo do Estado de Santa Catarina e o Banco Internacional para a Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD) - Acordo de Empréstimo nº 4.660-BR, firmado em 10 de maio de 2002.

Os recursos do BIRD são destinados ao financiamento das seguintes categorias de gastos na seguintes proporções em relação ao custo total estimado do Programa.

QUADRO 3: DESTINO DOS RECURSOS DO BIRD

Categoria Montante em US$ Percentual de Financiamento BIRD %
Obras* 160.000 73
Bens* 2.700.000 65
Suvenções de subprojeto rural 46.900.000 75
Serviços de consultoria e treinamento (partes A, C e D do projeto) 10.400.000 56
Auditorias 100.000 56
Taxa** 628.000  
Não - Alocado

1.912.000  
Total 62.800.000  
* Salvo aquelas sob as Subvenções de Subprojeto Rural

** Valor devido de acordo com a Cláusula 2.04 do Contrato de Empréstimo BIRD nº 4.660-BR

2.1.5 - Objetivos e Procedimentos da Auditoria

A presente Auditoria tem como objetivo verificar a aplicação dos recursos do Prapem/Microbacias 2, mais especificamente do Segundo Componente "Inversões Rurais", considerando-se aspectos jurídicos, contábeis e de execução.

Para tal foram adotados os seguintes procedimentos: